Miocardite.
As miocardites são definidas clinicamente como inflamações do músculo cardíaco, podendo envolver os miócitos, o interstício, estruturas vasculares e/ou o pericárdio.
É uma doença com quadro clínico bastante variado, incluindo pacientes assintomáticos e pacientes com sinais e sintomas de insuficiência cardíaca e grave disfunção ventricular, podendo ser uni ou bilateral, com ou sem dilatação cardíaca.
Estudos realizados em necropsias mostram que a miocardite se encontra presente em até 15% de adultos jovens que sofreram morte súbita.
A condição apresenta diversas causas, sendo as infecciosas as mais comuns, dentre estas a de etiologia viral é a predominante. Outras causas como isquemia, doenças autoimunes e trauma também são importantes agentes causadores.
O diagnóstico se dá através da combinação de quadro clínico, exames laboratoriais e de imagem.
O ECG e os biomarcadores são métodos de triagem e mais utilizados no âmbito da emergência com achados poucos sensíveis e específicos, porém a elevação de troponina corrobora com um pior prognóstico.
A biópsia possui grande valor diagnóstico com alta sensibilidade e especificidade, porém sua indicação limita-se a casos severos de falência cardíaca pelo risco de complicações.
Dentre os métodos de imagem, o ecocardiograma traz importantes informações sobre a morfologia e o funcionamento cardíaco, entretanto em pacientes com quadro inicial, os achados não são específicos e muitas vezes o exame não apresenta alterações.
A medicina nuclear enfrenta as mesmas dificuldades que o método ecográfico, além de utilizar radiação e trazer uma menor resolução espacial.
A ressonância magnética cardíaca é a ferramenta de escolha quando disponível nos centros, e seu uso vêm crescendo na avaliação e diagnóstico desta patologia devido a ser um método não invasivo com boa acurácia e ótima resolução anatômica, além de trazer informações diagnósticas em um estagio inicial da doença quando comparada com os outros métodos.
Achados da ressonância magnética incluem:
Anormalidades funcionais e morfológicas, identificação de derrame pericárdico, que apesar de inespecífico sugere um quadro inflamatório. É possível diferenciar ainda áreas de edema (reversíveis), que apresentam impregnação pelo contraste gadolínio de forma precoce, de outras áreas de necrose/fibrose (irreversíveis) com realce tardio do agente paramagnético na sequência T1 pós-contraste.
Foi-se estabelecido critérios imaginológicos para a avaliação de miocardite onde avaliamos mais notadamente:
- Edema miocárdico, caracterizado por um alto sinal na sequência T2 3IR.
- Hiperemia, caracterizado por um realce precoce patológico na sequência de realce dinâmico em repouso.
- Fibrose miocárdica, de padrão não isquêmico, geralmente mesocárdica.
- Disfunção ventricular, com queda da fração de ejeção.
- Achados associados como o derrame pericárdico.
FIGURA 1: Corte 4 câmaras na sequência black-blood ponderada em T2 3IR mostrando hipersinal no miocárdio, compatível com edema.
FIGURA 2: Sequência eixo curto de realce dinâmico em repouso demonstrando realce septal precoce patológico, caracterizando hiperemia.
FIGURA 3: Sequencia PSIR no eixo curto evidenciando área de realce tardio predominantemente subepicárdico, de padrão não isquêmico.
Dr Gustavo Cabrera Melges e Omar Ibraim Saleh.
J Am Coll Cardiol. 2009 April 28; 53(17): 1475?1487. doi:10.1016/j.jacc.2009.02.007.
Cardiovascular Magnetic Resonance in Myocarditis: A JACC White Paper Matthias G. Friedrich, MD, Udo Sechtem, MD, Jeanette Schulz-Menger, MD, Godtfred Holmvang, MD, Pauline Alakija, MD, Leslie T. Cooper6, James A. White, MD, Hassan Abdel-Aty, MD, Matthias Gutberlet, MD, Sanjay Prasad, MD, Anthony Aletras, PhD10, Jean-Pierre Laissy, MD, Ian Paterson, MD, Neil G. Filipchuk, MD, Andreas Kumar, MD, Matthias Pauschinger, MD, and Peter Liu, MD for the International Consensus Group on Cardiovascular MR in Myocarditis .